domingo, 15 de agosto de 2010

Falar e escrever bem: rumo à vitória

A Revista Veja publicou recentemente uma crítica aos discursos utilizados pelos candidatos à Presidência da República durante o debate promovido pela “Band”. Abaixo trazemos alguns recortes que julgamos interessantes. Vale lembrar que, assim como a expressão vocal, a linguagem utilizada é de suma importância para cativar os ouvintes e ter credibilidade.
“Quase nada foi oferecido ao eleitor que porventura tenha assistido às duas horas de perguntas, respostas, réplicas e tréplicas: na maior parte, o debate foi simplesmente ininteligível. Dois homens e duas mulheres cujo ofício público exige a formulação clara de propostas concretas e princípios abstratos falharam todos, em maior ou menor medida, no uso de uma ferramenta básica: a linguagem. Diante do fiasco desses profissionais, as pessoas comuns têm alguma esperança de expressar-se com mais clareza e eficiência? Para quem está empenhado em aperfeiçoar o manejo do idioma – e não será necessário lembrar que o seu domínio, na fala ou na escrita, é crucial para o crescimento profissional -, as oportunidades e as ferramentas são cada vez mais numerosas. Livrarias, bibliotecas e dicionários estão acessíveis pela internet, e a oferta de instrumentos auxiliares vem crescendo em volume e qualidade. Brasileiros têm desejo por ferramentas que os auxiliem no bom uso da língua, escrita ou falada. A expressão eficiente, afinal, revela a clareza (exatidão, fluidez, inteligibilidade, transparência) do pensamento – qualidade que, no debate, andou muito em falta. O português é uma língua dinâmica, continuadamente alterada e enriquecida por novas gírias, expressões, palavras importadas. Mas essa fluidez não faz dela um território sem leis. A gramática normativa cumpre um bom papel no esclarecimento sobre o que é ou não correto na escrita. A fala, porém, admite muitas construções que seriam aberrantes na página impressa. O que é preciso é achar o equilíbrio, inclusive nas diferenças de registro: um adolescente não pode empregar com os avós os mesmos termos que utiliza nas baladas com sua turma. E aí se chega a uma recomendação que todo cidadão vem ouvindo desde que se sentou pela primeira vez no banco da escola : ler é indispensável para quem quer se expressar bem. E ler inclui de Machado de Assis e Graciliano Ramos até um blog decente da internet (mas atenção: é preciso ler de tudo – não uma coisa ou outra). Ler mostra as infinitas possibilidades de expressão da língua, enriquece o vocabulário (e o bom vocabulário é o melhor amigo da precisão), ensina o leitor a organizar seu pensamento e ainda oferece a ele algo de valor inestimável: conteúdo. Ter coisas interessantes e pertinentes a dizer é o primeiro passo para falar ou escrever bem. É pena que os candidatos não tenham demonstrado o mesmo comprometimento com a transparência e a correção da linguagem. No auge da democracia clássica grega, no século V a.C., a fala era a principal arma de intervenção na vida pública. Em Roma, a retórica conheceu seu ápice com Marco Túlio Cícero. O orador, dizia ele, devia alcançar três objetivos: docere (ensinar), delectare (deleitar, agradar) e movere (afetar emocionalmente, comover). Confuso, chato, frio, o primeiro debate presidencial falhou nos três fundamentos. Espera-se que, nos próximos encontros, os candidatos consigam, pelo menos, se fazer entender”.
(por Jerônimo Teixeira e Daniela Macedo)
Fonte: Revista Veja, edição 2177, 11/08/2010

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